Dizer que o olfato dos cães é superior ao nosso é algo que praticamente ninguém questiona, cães podem ter até 300 milhões de receptores olfativos, enquanto nos humanos temos cerca de 5 milhões. A área no cérebro do cão dedicada a analisar odores é 40 vezes maior que a nossa.
Não seria um exagero dizer que o olfato é o sentido mais importante para os cães, assim como a visão é para nós. Sendo assim, para entendermos a linguagem dos cães precisamos entender também um pouco de como o olfato é utilizado por eles para reconhecer e comunicar informações no ambiente.
Cães tem diversas glândulas no corpo (cabeça, patas, região anal e entre as pernas) que liberam secreções de hormônios e feromônios, essas secreções deixam mensagens, informação sobre o cão que acabou de deixa-las.
Essas informações podem ser tão complexas quanto informar a idade, sexo, se for uma fêmea no cio, ranking hierárquico, saúde, se é conhecido e a quanto tempo o cão passou por ali. Esta última informação já vai fazer com que o cão que a recebe, fique mais ou menos atento a possibilidade de encontrar este outro cão nas redondezas.
Cães vão reagir de diversas maneiras ao reconhecer o odor de outro, alguns ficam tensos de imediato, outros ficam excitados começam a babar abrindo e fechando a boca, outros podem colocar sua marca sobre a informação do outro, deixando claro que esteve ali recentemente, podem passar diversos segundos cheirando um único ponto ou cheirar o ar em busca da fonte de um odor carregado pelo vento. Cada reação será baseada na informação identificada.
Durante o tempo todo cães recebem informações sobre outros cães e dificilmente notamos isso pela complexidade e riqueza implicadas, pensar nesse sentido (olfato) do cão nos faz perceber como o mundo deles é maior do que somos capazes de identificar.
Com tempo e experiência é possível estar mais ciente dessa comunicação e reconhecer padrões de comportamentos em nossos cães que indicam que reconheceram algo específico no meio.
Quando um cão defeca, urina, raspa as patas a cabeça ou até mesmo o corpo todo em algum lugar, na verdade também está deixando sua assinatura, dizendo quem é e possivelmente também suas intenções. Inclusive a própria demonstração física de raspar as patas no chão enquanto mantém o corpo elevado e observa outro cão, é considero uma forma de comunicação, isso entretanto extrapolaria a questão olfativa e abrangeria também a comunicação por linguagem corporal.
Algumas pessoas chamam essa secreção de demarcação, mas esse é um termo que prefiro utilizar de maneira limitada pois assim como outros termos dentro do mundo do comportamento canino, pode estar sendo utilizado e associado a outros significados para explicar comportamentos que as vezes não estão relacionados.
O termo demarcação territorial por exemplo é comumente utilizado para identificar uma ação proposital do cão com intenção de deixar claro que “controla” aquela área. Considero errada essa interpretação humana pois independente do status do cão, todos eventualmente demarcarão algum lugar.
A intenção de deixar seu odor em algum lugar e as vezes até em alguém pode ter sim intenções de demonstração de posse ( um cão se raspando nas suas pernas pode não simplesmente estar se coçando ou pedindo carinho) mas, nem sempre. As vezes o cão está só se coçando mesmo.
Outras maneiras de demarcação seriam, raspar o anus no chão, rolar e esfregar as costas e cabeça no chão, o levantar a perna e a tentativa (as vezes até de fêmeas) de urinar em locais mais altos, facilitaria o transporte desses odores pelo vento, mandando seus dados para muito mais cães.
Uma curiosidade é que os cães também podem reconhecer essas secreções lambendo superfícies ou até o próprio ar, isso porque existe um órgão no céu da boca dos cães que também também processa essas secreções de outros cães e está diretamente ligada com o sistema límbico (responsável pelas emoções) do cérebro.
Por fim, o fato de urinar e certificar-se de deixar seu odor em determinado local também pode estar associado a um estado emocional específico, as vezes um cão urina em mais locais e raspa mais as patas ao notar visualmente um outro cão do qual não tem muita certeza ou até mesmo ao notar o odor de um outro cão que por algum motivo o deixa ansioso ou inseguro.
Através do olfato o cão navega pelo seu mundo, reconhecendo onde está, o que aconteceu e possivelmente o que vai acontecer no futuro naquele ambiente.