Com a criação especializada e o desenvolvimento das raças, é seguro confiar nos padrões ditados pelo Kennel Clube?
Uma das primeiras lições dentro do nosso curso de formação de Educadores Caninos consiste em descrever um número de raças com a qual o aluno tenha tido contato, baseando-se não somente nos padrões fornecidos pelo Kennel Clube mas também na experiência pessoal de cada um.
Todos sabemos que existem cães de todos os tamanhos, pelagem e cores, também sabemos que muitos desses cães possuem uma genética resultante de uma seleção muitas vezes minuciosa que buscou e em alguns casos ainda busca ressaltar determinadas características físicas e temperamentais.
Existe entretanto alguma garantia de que um cão vá se comportar da maneira descrita na descrição da raça divulgada pelos clubes de raças e kennel Clube?
Fisicamente é bem mais fácil de se alcançar exemplares de cães próximos de um ideal, exatamente, um ideal. As definições das raças sempre são escritas baseadas em uma ideia do que aquela raça “deveria” ser. Este ideal não é uma garantia de que todos os cães daquela raça terão aquela aparência ou menos ainda aquele temperamento.
É muito comum encontrar famílias que adquirem cães esperando que estes se comportem exatamente da maneira que o padrão da raça descreve, ainda pior, é muito comum encontrar criadores que vendem filhotes que de acordo com eles, irão se comportar de determinada maneira, ter determinados gostos, gostar de determinadas pessoas e assim por diante, antes mesmo desses filhotes terem nascido.
Isso não quer dizer que algumas características são mais prováveis em algumas raças do que em outras, a genética tem uma influencia inquestionável no comportamento de uma cão.
Os problemas começam a acontecer quando: O criador não se importa com (e muitas vezes não conhece) o temperamento dos cães que esta cruzando.
Outro problema é o fato de que um número grande de criadores ignoram a socialização e a importância dos primeiros meses de vida, na formação e no desenvolvimento psicológico do cão.
Por último, temos uma total ignorância quase que proposital do fato de que cães são indivíduos e que portanto é provável que difiram em temperamento e personalidade.
Logicamente é muito mais fácil vender um filhote se todas as suas qualidades já vem listadas em uma descrição de um exemplar perfeito.
Seria muito mais complicado vender as particularidades de cada linha de sangue, as características dos pais das ninhadas, o temperamento de cada indivíduo, etc. Isso porque, existe uma chance grande de que alguma dessas coisas seja diferente do padrão que o Kennel Clube divulga da raça, os criadores e novos tutores teriam que realmente conhecer o filhote antes de colocá-los em seu novo lar. Conhece-lo pelo que ele é e não somente pelo que é esperado que ele seja.
Da pra imaginar a pressão que um filhote tem sobre si com tantas expectativas?
A avaliação do temperamento de filhotes é uma questão complicada, até porque o mesmo pode mudar bastante durante o primeiro ano de vida, mas algumas coisas são mais fáceis de notar do que outras (medo intenso por exemplo) e a genética e o temperamento dos pais é também um bom indicador. Vejo entretanto que a maioria dos profissionais que divulga cães para venda ou até mesmo adoção se limitam a utilizar termos gerais até para descrever indivíduos, ele é dócil, desconfiado, calmo, bravo, brincalhão, etc.
Esses termos na verdade não dizem muito em relação ao cão pois não especificam contextos e adquirir um cão baseando-se somente em informações gerais pode ser uma faca de dois gumes.
Como mencionei no início, a questão sobre as raças gera diversas perguntas na cabeça de meus alunos que de um momento para outro se pegam comparando os indivíduos que tiveram a oportunidade de conhecer, com o famoso ideal divulgado como padrão da raça. O resultado é quase sempre o mesmo, dentre as experiências que a maioria tem com cães de raças específicas, a maioria nota uma semelhança com o padrão físico da raça mas quando a questão é o temperamento, percebem que a individualidade genética combinada as experiências individuais de cada um é o que verdadeiramente define o que o cão é, não um ideal de raça as vezes criado a centenas de anos atrás.
Como escolher o melhor cão pra mim e minha família?
Se você pretende adquirir um cão filhote ou adulto, tente conseguir o máximo de informações possível sobre a origem desse cão. Quem são os pais, ou no caso de cães resgatados, o histórico de vida.
Quando essas informações não estiverem disponíveis, peça uma descrição mais detalhada do cão com especificações de quando e porque ele se comporta da maneira que o criador ou protetor descreve.
Peça para conhecer o cão e resista a tentação de levá-lo pra casa logo na primeira visita, veja-o em dias e horários diferentes e quando adulto, leve-o para um pequeno passeio observando suas reações na rua em relação a sons, pessoas, outros animais e você. O ambiente da maioria dos abrigos não costuma ser o ideal para se conhecer a verdadeira personalidade de um cão por isso, se possível procure um profissional para ajudá-lo na sua escolha, isso pode lhe evitar muitos problemas.
No caso de filhotes, tudo vai depender do tipo de personalidade que você procura mas tente testá-lo ou questionar o criador sobre como o filhote irá reagir e se já foi exposto aos estímulos que possivelmente encontrará em seu novo lar (crianças, outros animais, pisos diferentes, ser manuseado, objetos estranhos, etc.), é responsabilidade de todo criador preparar seus filhotes para que possam ter melhores chances de se adaptar quando saírem do canil.
Durante o processo de socialização ativo do criador, este também passará a conhecer melhor as características individuais de cada filhote e poderá lhe aconselhar a uma melhor escolha.
Esperar que um cão satisfaça todos os itens descritos no padrão de sua raça é o mesmo que dizer que todo Brasileiro nasce sabendo sambar e já é craque de futebol (sei que esse seria o sonho de muitos). Uma expectativa inocente baseada em esteriótipos e uma imagem ideal que as pessoas podem ter do nosso povo.
E ai, qual a sua raça?
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