Embora entendamos que bons comportamentos devem ser recompensados, se quisermos que o cão repita esses comportamentos, há diferentes opiniões sobre como e quanto devemos premiar os nossos cães. Podemos considerar que um “muito bem!” é uma ótima maneira de se comunicar com o cão quando ele fez a coisa certa, mas é realmente? Será que afetaremos seu comportamento, tanto quanto pensamos? Será que é melhor um tapinha na cabeça, um “Bom garoto!” ou um pedaço de queijo, todos têm o mesmo valor para o cão? Claro que não, seria como dizer que iríamos trabalhar da mesma maneira por um tapinha nas costas do nosso chefe, por um “Muito bem!” ou por um salário. Embora possamos apreciar os elogios e atenção, eles nunca vão se comparar com o nosso salário! Como Bob Bailey diz: “tem que valer a pena o esforço do animal!”
Então, como é que sabemos quando estamos usando a remuneração adequada e quando podemos acabar com o uso de petiscos? O reforço positivo é a adição de um estímulo para aumentar um comportamento. A “Lei de efeito” (Thorndike, 1927) afirma que, quando a consequência de um comportamento leva a satisfação do animal, o comportamento é reforçado e, provavelmente, será repetido. Este princípio é bem conhecido no meio do treinamento de animais onde propositadamente manipulamos o tempo e a entrega de nossa recompensa, a fim de condicionar o animal a responder de uma forma específica a um comando em particular. Quando o cão oferece o comportamento que estamos procurando, nós reforçamos com algo de valor para ele. Nós podemos dar ao nosso cão atenção, comida, parabenização verbal, brincar, carinho, brinquedos, etc. Qualquer coisa que o cão gosta atuará como um reforçador. No entanto, ao optar por uma recompensa ou outra, é importante considerar o valor potencial da recompensa em todos os momentos. Um grão de ração pode ser uma grande recompensa em nossa cozinha, mas quando o cão estiver no parque, brincando com um outro cão provavelmente vai ter menor valor.
No topo da lista de recompensas: alimentos. Como um reforçador primário, em outras palavras, como tendo valor biológico inato para o cão, a comida é geralmente um forte motivador para o comportamento. Afinal, nenhum cão vivo pode ficar sem comer. “Senta”, clique – comida! A comida é fácil de usar e de controlar. Como um bônus, é provado que o uso de alimento no treinamento ajuda a melhorar o comportamento social do cão com seres humanos (Feuerbacher & al., 2014). Quando usamos comida, cães mostram, menos comportamentos de esquiva e mais atração pelas pessoas, especialmente pela pessoa que entrega a comida. Assim, mais do que apenas um auxílio ao treinamento, alimentos facilitam o vínculo que pode se desenvolver entre cães e seres humanos.
É possível que o fato de valorizarmos reconhecimento verbal e contato entre nós, também nos faça crer que essas manifestações devam ter valor para o cão. Apesar de um aumento no uso de petiscos no treinamento de cães, a maioria dos tutores de animais de estimação ainda resiste a dar petiscos e quando o fazem, são muitas vezes bem mesquinhos. Muito parecido com um tapinha nas costas, esperamos que um toque na cabeça de nosso cão seja suficiente para demonstrar o nosso carinho e aprovação. Na verdade, carinho é também um reforçador primário, e estudos têm mostrado que acariciar um cão tem efeitos positivos muito claro sobre nossos amigos caninos. Diminuição da freqüência cardíaca e da pressão arterial dos cães enquanto há um aumento das endorfinas, prolactina, ocitocina e dopamina (Odendaal & Meintjes, 2003). Tais respostas fisiológicas revelam claramente o valor positivo e calmante dos nossos toques afetivos. Acariciar pode, portanto, ser usado como uma recompensa e muitas vezes é o principal meio de reforçar um comportamento em cães do Exército.
E as palavras? Estamos muito acostumados a falar um “Bom garoto!”, como uma forma de expressar a nossa satisfação e recompensar o nosso animal de estimação. Porém, se pensarmos sobre isso, essa é uma maneira muito humana de interagir com outro ser. Os nossos cães não usam palavras entre si e não apresentam qualquer prazer especial nas vocalizações de outros cães. Que valor então tem os elogios para os nossos amigos caninos? Um par de estudos recentes podem conter a resposta a esta pergunta: O elogio realmente funciona?
No primeiro experimento, 15 cães foram treinados para “sentar e ficar” e “vir”. Numa primeira fase, chamada de “treinamento de base” o treinador começava a um metro de distância e de frente para o cão, então se agachava no chão. Assim que o cão oferecia contato visual, ela se levantava e recompensava o cão. Uma vez que o cão foi 100% bem sucedido nesta tarefa, o treinamento experimental era iniciado.
Nesta segunda etapa, pediu-se para que os cães sentassem e ficassem, em seguida, o treinador movia-se a uma distância de 2, 3 ou 4 metros, virava-se para o cão e dava o comando de “vem”. O comando era dado em um tom muito neutro e sem emoção na voz. Quando os cães respondiam corretamente, recebiam um dos três tipos de recompensa: comida, carinho ou elogios (Fukuzawa & al, 2013).
Curiosamente, não houve diferenças estatísticas entre os três grupos de recompensa. Todos os cães aprenderam praticamente no mesmo ritmo. Isso poderia sugerir que não importa o reforçador, e que é preciso um certo número de repetições para um cão para aprender uma tarefa. Isto confirma estudos anteriores que também não encontraram nenhuma diferença significativa no número de sessões de treinamento necessárias para ensinar um comportamento se usamos um clicker e petiscos ou petiscos sozinhos. O clicker no entanto parece aumentar a resistência dos comportamentos ensinados à extinção (Smith & Davis, 2008). Os cães podem simplesmente precisar de um certo número de repetições e não importa o método? Neste experimento, durante o treinamento de base no entanto, os cachorros aprenderam muito mais rápido com comida do que com qualquer afago ou elogio.
Assim, nos primeiros estágios do treinamento, o uso de alimentos fez uma grande diferença. Quando o valor da recompensa é maior, o animal aprende mais rápido e associa o comportamento com uma emoção positiva, uma satisfação que aumenta a motivação para repetir o comportamento. Eles também vão responder mais rapidamente, o que significa que vai ficar na posição mais rápido depois de ouvir o comando quando o alimento está envolvido.
Um segundo estudo explorou ainda mais os efeitos entre o elogio verbal e o carinho, testando cães de abrigo e cães com dono. Os cães foram avaliados no seu desejo de interagir com uma pessoa, dependendo se eles conversaram com eles ou os tocavam.
Quando acariciando, a pessoa usava somente uma mão sobre o lado do cão mais próximo a ela, fazendo assim que o cão nunca se sentisse preso. A pessoa acariciava a parte do corpo do cão que estivesse mais próxima a ela. Ao usar elogios (palavras)l, a pessoa falava com o cão em um tom de voz feliz e alto e dizia frases como: “Você é um bom cão! ou Que cachorrinho lindo que você é!” Os pesquisadores mediram as escolhas dos cães para saber se preferiam ficar com uma ou outra pessoa, dependendo do tipo de interação em diferentes condições (Feuerbacher & Wynne, 2014).
Em todos os casos, os cães passaram muito mais tempo com uma pessoa quando carícias estavam envolvidas, em vez do elogio sozinho. Mesmo quando um estranho estava acariciando o cão e o proprietário estava na mesma área proporcionando elogio verbal, os cães se afastavam do proprietário para desfrutar do contato físico. Mais surpreendente foi o fato de que os cães não se aproximavam mais de uma pessoa que falava com eles, do que de uma que simplesmente os ignorava!
Nós somos uma espécie vocal por isso é bastante natural para nós tentarmos interagir dessa forma com o nosso cães. Parece que falamos com os nossos cães da mesma forma que falamos com crianças. Mas se este tipo de interação tem valor para os cães é definitivamente uma questão a se considerar.
A melhor maneira de certificar-se de que o elogio pode desempenhar um papel no condicionamento operante, é emparelhá-lo com um reforçador primário como a comida, e até mesmo com o carinho. Através do condicionamento, o elogio pode incrementar nosso arsenal de recompensas e contribuir eficazmente no treinamento. Mas, assim como qualquer outro tipo de recompensa, tudo depende do estado e motivação internos do cão, não é mesmo?