Quando se lida com tutores e educadores de cães, uma coisa muito comum de se ouvir é que a falta de resposta a um comando ou o surgimento de um comportamento indesejado (latidos, demonstrações de agressividade, puxar de guia, etc.) são culpa do cão.
Especialmente se este cão já passou por algum tipo de treinamento, mesmo que mínimo.
Também existe a culpa que o tutor coloca no educador e este por outro lado coloca no tutor, ou seja, é um tal de culpar o outro e não assumir responsabilidades que no fim todos saem perdendo, inclusive o cão.
Acho até natural que tutores culpem seus cães por se comportarem mal pois na maioria das vezes não conseguem reconhecer a influência que tem sobre tais comportamentos.
O que realmente me incomoda entretanto, é ver educadores caninos que culpam o cão quando na verdade deveriam reconhecer sua própria incapacidade de entender o processo de aprendizado e as influências do meio nos comportamentos dos animais.
Independente do quanto você conheça sobre condicionamento, não irá obter altos níveis de sucesso se ignorar a história, a natureza e as motivações que levam cada cão a fazer ou deixar de fazer o que fazem, desconsiderar esses elementos é treinar de maneira medíocre e ineficiente.
Não é incomum encontrar educadores caninos frustrados por não alcançar os resultados que esperam de seus alunos, sei bem disso pois encontro centenas de novos educadores todos os anos e as dúvidas e dificuldades são muitas vezes as mesmas.
Um dos elementos do treinamento mais ignorados, especialmente por educadores que utilizam métodos baseados no uso de recompensas, é a necessidade de repetição dos comportamentos ensinados, logo em seguida vem a inabilidade de reconhecer o quando esses comportamentos “aprendidos” podem estar associados com situações específicas, locais e até postura física.
É difícil encontrar educadores que estejam cientes da importância da generalização como fase do processo de aprendizado, é muito comum ouvir pessoas dizer: “Esse cão aprendeu tudo isso em 4 aulas…” ou “Na primeira aula ele ja sabia sentar, deitar e dar a pata…”
Será que esse cão realmente aprendeu ou vai executar esses comportamentos somente em locais específicos, talvez na presença de estímulos de comida ou com um enforcador no pescoço. Lembre que educar o cão é um processo e não um supletivo resumido.
O que caracteriza um cão saber ou não?
Pessoalmente acredito que o cão esteja sempre aprendendo e que sempre pode haver uma situação em que o que você acreditava ser certo, não aconteça.
Vou dar um exemplo simples de um truque básico. Vamos supor que eu tenha ensiinado um cão a dar a pata (colocar a pata na minha mão) com um comando verbal. Será que se eu estiver deitado no chão o cão vai responder da mesma maneira? Se eu estiver de costas para o cão ele responderá? Será que se o cão não puder me ver, dará a pata?
Tudo que acontece e esta ao redor do cão durante o processo de aprendizado, também fica associado ao comportamento e sua execução.
Cães são seres vivos e contanto passíveis de serem influenciados pelo seu meio. Por isso alguns cães só respondem em determinadas situações e contextos, não porque são malandros mas porque foram ensinados que em determinadas situações devem ou é melhor responder e outras não.
Grande parte dos educadores carregam uma expectativa de que se o cão senta no quintal de casa, deve saber sentar na praça cheia de cães, na clinica veterinária, quando chega uma visita, etc.
Se o ambiente ou contexto mudam, muitos cães vão se sentir tão super estimulados que não conseguirão nem focar no educador, quem dirá responder a um comando.
Esse tipo de reação é normal, deve ser antecipado e faz parte do processo de aprendizagem da maioria dos cães.
Outra questão importante é que temos a tendência natural de julgar, e tentar classificar na nossa própria cabeça, baseados nas nossas experiências e visões, quais seriam os estímulos considerados fortes demais para se conseguir manter a anteção do cão ou fracos o suficiente que o cão “deveria” ser capaz de lidar e mesmo assim responder prontamente.
Ninguém, a não ser o próprio cão é capaz de mostrar exatamente o que é aceitável ou demais pra ele.
Isso se aplica para cada animal individualmente, e vai ser ditado por sua genética e experiências tidas até aquele momento.
Educar um cão é um processo dinâmico e que requer constante re-avaliação dos fatores que influenciam o treino. Por isso quando dou cursos, procuro mostrar aos meus alunos a importância de pensar por si próprios, realmente entender o processo de aprendizagem e a importância de cada uma de suas fases.
Não é difícil encontrar técnicas de treinamento do tipo receita de bolo mas essas muitas vezes não levam em consideração que cada cão é uma forma de bolo diferente.
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