Quando eu era mais novo e ainda frequentava a escola primária, achava interessante como distinguíamos os nossos professores, qualificávamos entre bonzinho, bravo, amigo…
Tínhamos reações e expectativas diferentes ao ver cada um deles e achávamos que sabíamos em quais confiar ou não. Foi dai que uma coisa aconteceu que me fez parar e repensar a maneira que eu caracterizava meus professores.
Numa tarde em que eu e minha mãe caminhávamos entre os corredores de um supermercado local (ela sempre me levava para ajudar a carregar as compras), calhamos de nos deparar com uma de minhas professoras da escola, uma das que eu considerava “brava”.
Estávamos em um mês de férias e já fazia algum tempo que não via esta tal professora. Minha primeira reação foi de choque, não sabia se corria ou me escondia, reação estranha pois nunca fui um aluno problema e não havia motivos para temê-la.
A professore me olhou e surpreendentemente abriu um enorme sorriso, seguido de um: “Oi Dante!” . Minha mãe não conhecia a professora e pareceu confusa com a situação, mas a professora foi breve em informar de onde nos conhecíamos ao se apresentar.
Ela então prosseguiu a conversar com minha mãe e a dizer o quão bom aluno eu era e o quanto ela gostava de mim. Ela parecia tão diferente da professora que eu via na escola, tão relaxada, descontraída e na verdade, tão normal. Parecia realmente que era uma outra pessoa.
Depois de uma breve conversa ela se despediu com um sorriso ainda mais largo que o primeiro e eu e minha mãe seguimos em frente, buscando preencher nosso carrinho de compras.
Ao passar meu estado de choque, comecei a tentar entender o que havia ocorrido. Como podia a mesma pessoa agir de forma tão diferente? Será que ela estava fingindo? Porque ela faria isso?
Levou um tempo mas acabei percebendo o que tinha acontecido ao observar a mesma professora em sala de aula novamente .
O ambiente em que ela se encontrava fazia com que ela tivesse reações diferentes. As circunstâncias e o histórico de estar na sala de aula faziam com que ela automaticamente assumisse uma postura defensiva, um tom mais sério, uma expressão mais fechada.
A expectativa que ela tinha, de que os alunos se comportariam de maneira inapropriada e não a ouvissem, fazia com que ela fosse menos tolerante naquela situação e que suas reações fossem mais exageradas.
Conclusão, aquela mesma professora que podia ser tão gentil e amável, quando era colocada numa situação em que ela se sentia desconfortável e insegura, se transformava em uma professora brava.
Será que as reações das pessoas, assim como dos cães podem ser influenciadas por fatores externos a ponto de fazermos julgamentos errados quanto as suas naturezas?
Será que uma pessoa ou um cão aparentemente amigáveis, se colocados em situações de estresse elevado, onde se sintam ameaçados ou sem controle do que esta acontecendo, podem reagir de forma agressiva ?
Um histórico de experiências passadas negativas pode fazer com que a postura geral de uma pessoa seja de “braveza”, mesmo que a natureza dela seja amigável?
Será que todo cão que é considerado bravo, nasceu desse jeito?
Me parece que a agressividade demonstrada por pessoas assim como por cães é tanto parte de uma tendência natural (genética), quanto de influências ambientais e experiências passadas.
Sendo assim, alterando o ambiente ou a percepção que o indivíduo tem daquele ambiente, podemos influenciar o seu comportamento e fazer com que o mesmo haja de maneira diferente.
Minha professora continuou sendo vista como brava e agindo como tal. Eu sabia que ela podia ser diferente mas ao mesmo tempo, tinha dificuldade em “desrotular”, até mesmo os alunos que não a conheciam, ficavam com medo dela.
Acho que minha professora nunca quis ser vista dessa maneira, simplesmente foi o papel que a coube, o que acabou acontecendo, o que nós mesmos fizemos dela.
Acho que muitos de nós conhecemos histórias similares, muitas avaliações precipitadas e muitas oportunidades perdidas.
Por traz de toda agressividade existe um grito de socorro, uma tentativa desesperada de se fazer entender e uma esperança de que essa seja a última vez que agir dessa maneira seja necessário.
Esta é uma reflexão a respeito da Agressividade Canina.
Dante Camacho