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Cães educados, curtem mais a vida!

Porquê educar positivamente e algumas ideias para solução de um problema comum – Pular nas visitas!!!

Em uma conversa recente com um tutor, fui questionado em relação a eficácia e viabilidade da educação através de métodos positivos. As questões apresentadas eram pertinentes e acredito eu, muito comuns entre as pessoas que procuram por maneiras de educar seus cães. Achei que seria útil e interessante dividir com todos o conteúdo dessa nossa conversa.

Para proteger a identidade da pessoa, vou me referir a ele somente como tutor, espero que aproveitem e que essa conversa sirva de motivador para mantermos abertos os canais de comunicação entre todos aqueles envolvidos na educação de cães. 

Tutor

Olá, peço sua ajuda em um ponto bem polêmico no adestramento, sei que você trabalha com adestramento positivo e tal, mais eu queria saber , como fazer o cachorro obedecer o NÃO no adestramento positivo, o adestramento positivo é mostrar para o cão que certa coisa é correta, mais como mostrar pra ele que aquilo que ele fazia é errado ?Como fazer o cachorro entender o não? O cachorro sera que não acaba fazendo só perante a petisco não? E ele não vai fazer só pra ganhar petiscos não? Porque ficar a vida toda dando petisco não rola, queria q o cão aprendesse o que é errado e que ele não deveria fazer aquilo, não que ele não vai fazer pra ganhar petisco, entende? Aproveitando queria saber oque você acha sobre correção com leves trancos na coleira? Impedindo de realizar o comportamento ? Aguardo suas respostas, abraço!

Dante Camacho

Ola Tutor, Existem diversas linhas de adestramento e mesmo dentro do “positivismo” as pessoas têm opiniões diferentes em relação a que tipo de estímulos devem ou não ser utilizados como forma de ensinar o cão. Educar um cão requer paciência e planejamento, sem essas qualidades a pessoa estará muito provavelmente fadada a se frustrar e acabar se voltando a recursos como a utilização de força, medo e dor para convencer o cão a fazer ou deixar de fazer algo.

Pois bem, parta do princípio de que para deixar de fazer algo o cão deve fazer alguma outra coisa, isso é o normal. Por exemplo: Para o cão deixar de latir, ele tem que ficar quieto e ficar quieto é um comportamento que pode ser ensinado e recompensado. Para um cão deixar de  pular nas pessoas, ele deve manter as quatro patas no chão, ou sentar, deitar,etc. e todos esses são comportamentos que podem ser ensinados e recompensados.

O primeiro ponto a se lembrar então é que sempre que lidando com comportamentos indesejados, devemos focar na contrapartida, no comportamento que desejamos. Se o educador falhar em reforçar esses comportamentos, existe quase uma certeza de que o cão voltará a demonstrar os comportamentos indesejados mesmo que tenha sido punido.

Sabemos então que o ponto inicial é focar no que queremos, vamos para o segundo. Ensine o que quer antes! Só uma pessoa insensata vai tentar ensinar uma criança a ficar quieta e parada no meio de um parque de diversões, correto? Não adianta querer ensinar um cão a sentar quando chega a visita, você tem que ensinar antes em uma situação calma para que ele possa entender o exercício, em seguida repetir em uma situação com um pouco de distrações e depois mais e mais, gradativamente. Se o cão ainda não sabe se controlar na presença de visitas e você ainda esta em processo de ensiná-lo, mantenha-o na guia e evite que ele possa cometer o erro.

Falando em se controlar, vamos ao nosso passo seguinte: controle!  Existem dois aspectos a serem controlados mas diferente daquilo que a maioria das pessoas pensa, controlar o cachorro é uma consequência de se controlar o ambiente e os recursos. Quando você tem controle do ambiente e dos recursos nele presentes, você automaticamente tem controle sob o cão.

Por isso é tão importante o planejamento dos treinos ao invés de simplesmente colocar uma guia no cão, sair pra rua e então pensar no que é e onde vai fazer. Quando me refiro a recursos estou falando das coisas que são importantes para o cão, coisas como atenção, carinho, comida,brinquedos, interação com pessoas e outros cães, cheirar, correr, etc.

Ao mencionar controle ambiental me refiro ao quanto posso prever os acontecimentos no ambiente ( por exemplo, saber se um cão vai passar correndo na frente do meu enquanto estamos iniciando o trabalho do “fica”) e ao quanto posso limitar o acesso do meu cão aos ambientes em que as situações de treinamento ou onde os comportamentos indesejados ocorrem. Mais um elemento sobre controle é o auto-controle que devo sempre ensinar ao cão já nas primeiras sessões de treinamento. Quanto mais auto controle o cão tiver, melhor! Especialmente em se tratando de cães de família.

Uma vez tendo esses passos tomados, vamos pensar como agir quando o cão faz algo que não queremos. Primeiramente encontramos o motivo real, não aquilo que eu acho baseado na minha frustração na situação, nesse momento muita gente simplesmente justifica os comportamentos do cão com adjetivos do tipo, malandro, folgado, burro, dominante, distraído, etc.

Em seguida penso em qual comportamento quero que meu cão apresente naquela situação e vejo se é possivel alcança-lo naquele momento, caso não seja, retiro os estimulos que possam estar causando o comportamento indesejado ou retiro o cão do ambiente.

Dependendo do motivo pelo qual o cão esta reagindo da maneira indesejada, a retirada dele ou dos estímulos pode ter significados opostos. Por isso é muito importante entender as causas do comportamento.

Deixe me explicar:  No caso de um cão que late quando vê outros a causa pode ser frustração por ansiedade e vontade de encontrar, retirá-lo da situação é uma punição, já no caso do cão que late por receio e medo de que se aproximem, retirar da situação se torna uma recompensa.

Tutor


Eu entendi, o que devo fazer é começar pedindo o senta no portão, e assim indo evoluindo, ate chegar na situação real, tipo, eu peço o senta , depois o senta e a campainha tocando, depois o fica e o portão abrindo e por ultimo o fica e a pessoa entrando, é isso ai né , e sempre recompensando quando ele acerta…

Ou quando ela pula eu faço ela não pular e recompensa. Realmente controlar os recursos e os estímulos é o ponto x, tem que ir colocando aos poucos, não adianta nada querer que um cão fique quieto com uma pessoa entrando em casa sem antes ter treinado só 1 recurso, como treinar ele a escutar a campainha,primeiro,.depois a escutar a campainha e o portão abrindo e depois a pessoa entrando , mais o problema é que 100% das vezes o estimulo, o instinto, é mais forte, ele acaba em uma situação real nem se importando para o petisco, ele quer é novidade, a vontade de pular e interagir com a pessoa é maior.

Dante Camacho

Correto Tutor, ai é que a maioria das pessoas desistem do trabalho positivo e começam a tentar solucionar o problema com trancos e punições com base em intimidação. O que fazer na situação em que os estímulos que você possui não são atraentes o suficiente para fazer com que o cão se mantenha interessado e atento a aquilo que estamos tentando ensinar?

Voltamos ao ponto do controle de estímulos, o estímulo de ter uma pessoa nova chegando em casa é muito motivante e se não pudermos controlá-lo, a única coisa a se fazer é controlar ao cão. A utilização de guia nesse momento é essencial. O cão não pode ter acesso (alcançar) o estímulo principal (pessoa) e deverá se manter a uma determinada distância, nessa situação nada acontecerá com o cão a não ser o fato de ser impedido de conseguir o que quer, não falarei nada ou tentarei forçá-lo a nada, simplesmente esperarei até que ele consiga mostrar um pouco de auto controle e deixar de puxar a guia, nesse momento poderei parabenizá-lo e deixar que se aproxime da pessoa rapidamente para um pequeno contato, logo em seguida o afastarei novamente e esperarei mais uma vez pelo bom comportamento.No caso de cães que ficam loucos demais, retiro o cão totalmente da situação assim que começar a ficar excessivamente excitado ( depende da opinião de cada pessoa) e quando se acalmar trago de volta a situação anterior, repito isso toda vez que ele passar do limite de loucura. Aos poucos o cão vai perceber que ficar louco ou super agitado não resulta em nada do que ele quer, muito pelo contrário.

Paralelo a esse trabalho tenho que ensinar o cão exercícios de auto controle e de paciência (fora desse contexto) para que ele tenha maiores chances de alcançar sucesso na situação real. Para casos muito graves, faria simulações em situações diferentes com pessoas conhecidas primeiro, fora de casa e após uma caminhada inicial, dessa maneira fazendo com que o cão esteja um pouco menos afobado.

O sucesso do seu treino sempre vai depender do engajamento e consistência das pessoas que convivem com o cão, de nada adianta uma pessoa fazer algo correto é outra fazer o oposto, isso só contribui para a confusão na cabeça do cão. Fora isso o tutor/educador poderá utilizar de outras estratégias para conseguir um melhor comportamento de maneira positiva.

Ensinar o cão a procurar e segurar um objeto toda vez que te vê por exemplo,  isso ajuda a redirecionar a ansiedade e diminui a probabilidade de pulos. Ensinar o cão a esperar na sua cama quando chega alguém e outra alternativa, até mesmo ensinar ao cão que todas as vezes que uma visita chega, petiscos cairão do céu é o chão (próximo a porta) se tornará um lugar especial cheio de guloseimas, dessa maneira redirecionando a atenção do cão e criando uma expectativa nas próximas vezes de que coisas boas acontecem quando chega visita mas que para  consegui-las deve se manter no chão e esperar essa coisas boas virem. Bom,existem tantas soluções quanto problemas quando falamos de treinamento, tudo depende de criatividade e comprometimento.

Tutor

No adestramento positivo é permitido usar a guia para impedir o cão? Porque por exemplo, na hora do auto controle nas refeiçoes eu prendo ele numa guia e coloco petisco na frente dele, quando ele para de tentar pegar o petisco, para de puxar, senta e desvia o olho, eu falo OK clico e recompenso, isso se aplica ai também? Isso que é nomeado auto controle?

Dante Camacho

Sim, você pode utilizar a guia para impedir comportamentos mas no seu exemplo o cão não tem a opção de cometer o erro. O ideal seria segurar a comida na mão fechada em frente ao cão e toda vez que ele tentar pegar, rapidamente mover a mão para cima, quando ele deixar de pular/tentar pegar, abaixar e tentar novamente até a hora que ele deixar de tentar pegar Dessa maneira ele pode cometer o erro e perceber a consequência mas em nenhum momento consegue pegar a comida quando erra. O adestramento positivo utiliza de punições mas não aquelas do tipo tranco, chutes e medo.

Tutor

Qual tipo de punição?

Dante Camacho

Frustrar um cão é uma ótima maneira de punir, retirá-lo da situação em que ele quer estar também, ou retirar o que ele quer da situação.Quando você mostra o petisco e retira na hora que ele tenta pegar, você esta punindo.Esse tipo de punição é chamada de punição negativa, ou seja, quando algo bom é retirado.

Tutor

Terei que sempre dar petiscos para o cão obedecer?

Dante Camacho

O fato de ter que dar petisco para um cão por um tempo longo durante o treinamento é uma dúvida que muitas pessoas tem e muitos são totalmente contra, dizendo que não querem ter que sempre recompensar seu cão.

Acho essa posição um pouco irônica pois vejo o fato de recompensar o cão como sendo algo bom, é exatamente o oposto de punir o cão, correto?As pessoas entretanto não se incomodam em punir seu cão sempre que saem com ele da mesma forma que se incomodam em recompensá-lo sempre que vão passear. Estranho isso…

Uma das coisas mais comuns é ver treinadores e tutores tendo que dar um tranco no pescoço do cão para que ele sente, mesmo depois de muito tempo de treino, seja porque o cão esta distraído ou porque não entende o que é esperado dele naquela situação.O fato é que educar um cão é algo que requer avaliação constante dos nossos atos. Se o cão precisa que eu sempre dê um tranco na guia, não é diferente do cão que precisa sempre ver um petisco. Ambos estão somente parcialmente treinados e não sabem tomar decisões corretas por si próprios , dependem de um estímulo do educador.

Vale lembrar que o treinamento através do uso de punições é também um trabalho muito técnico e específico e que requer extrema consistência e precisão, senão não funciona (não sou a favor do treinamento através do uso de punições por conta de possíveis danos a relação entre o cão e seu tutor, danos físicos e psicológicos).

Tutor

Entendi cara, agora já to pegando a manha.Bem, eu tirei minhas duvidas porque eu estou a adquirir um border collie e quero usar só o adestramento positivo.

Obrigado cara!

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